segunda-feira, 1 de agosto de 2016

Viajando para o fim do mundo

Mariane Ramos Santos

Era verão, passávamos as férias em uma cidadezinha do interior chamada Itaju, com pouco mais de 5 mil habitantes. Todos os moradores conheciam uns aos outros e meus pais decidiram que seria um ótimo lugar para curtir as férias. Era uma tarde de domingo, o céu estava lindo e eu estava deitado no gramado do quintal observando a movimentação das nuvens, pisquei. No mesmo instante, alguém dentro da casa ligou o rádio e todas as estações anunciavam que o mundo acabaria naquele dia.
Ainda não se sabia como, mas acabaria. Talvez um ataque de zumbis? Ou o sol queimaria a terra inteira? Tsunami? Furacão? Olhei novamente para o céu, pensei em ir correndo abraçar minha família, meus amigos, mas refleti: Impossível, esse dia tá lindo.
Começou a correria na cidade, as pessoas só falavam sobre o fim do mundo, mas eu? Eu caminhava tranquilo, tinha fé de que aquilo era boato, conversa fiada, alguém querendo causar polêmica. Enfim 13h, com todo o movimento da pequena Itajuzinha todos se dirigiam até o mercado e compravam tudo o que podiam para fazer estoque de alimentos em suas casas caso o inesperado acontecesse realmente.
Mas eu, Lucas, estava despreocupado, nada tirava da minha cabeça que isso era apenas uma mentira iguais às de outros anos. O mundo acabar em pleno ano de 2039? Não! O mundo ainda era muito novo para acabar.
Meus pais também estavam no supermercado, então sem almoço fui até uma lanchonete no fim da rua. “Eu quero um hambúrguer completo, batata frita e uma Coca-Cola”. O garçom me olhou rápido e apavorado. “Garoto, nós já estamos fechando, você não está ouvindo as rádios? Estão mandando todos ficar em casa”. Com fome, voltei para a casa com esperança de encontrar algo para comer. Meus pais ainda não haviam voltado, então de repente ouvi um barulho, parecia um zunido misturado com um estrondo muito grande. Abri a janela, e não avistei nada tudo parecia normal, resolvi sair e olhar a rua inteira.



Quando avistei aquilo, dei um grito, entrei em pânico, apavorado voltei para dentro de casa. Meu Deus, eu estava ficando louco, aquilo não podia ser real?! Zumbis? Acompanhados de insetos gigantes???? Eu estava delirando, até porque aquilo não existia, era impossível! Minha família chegou em casa, assustados nos escondemos no porão. Peguei o notebook com o resto de bateria que restava e comecei a pesquisar possíveis causas que explicassem aquela situação horrível.
Notícias de testes realizados pelo exército com armas biológicas apareceram nas minhas redes sociais. Estava explicado! Algo havia dado errado. Mas como seria possível destruir essas coisas horríveis e salvar o mundo? Esperamos passar a multidão de zumbis e corremos para o carro. Meu pai dirigia muito rápido, chegamos à ponte e o trânsito parou. Pessoas se atiravam na frente dos carros pedindo por carona, adultos, jovens, crianças, parecia um filme de terror. Policiais atiravam em quem estava se transformando em zumbi. 
Não tinha como atravessar a ponte, e se saíssemos do carro seríamos mortos. Meu pai acelerou muito forte, passou por cima de todos que estavam ali. Seguimos viagem para o lado norte do país, íamos parando em postos de gasolina e abastecíamos onde ainda restava algo. Fomos obrigados a viajar para encontrar um lugar onde existisse esperança.



Viajamos por dias, passando por lugares totalmente destruídos, a vegetação estava morrendo. Em algumas cidades como a nossa, a destruição era pior, mas conforme nos dirigíamos na direção norte o caos ia diminuindo e chegamos a cidades em que ele ainda nem havia chegado.
Levei um susto. Acordei no meio do quintal ainda deitado na grama. Meu Deus! ERA UM SONHO, NÃO ERA REAL! Pulei, gritei, corri para dentro de casa, tudo estava no seu lugar. As pessoas que passavam pela rua eram humanas, sem zumbis, ou insetos gigantes. Que alegria, nossa terra estava a salvo.
Meus pais estavam se ajeitando para ir até a praia e curtir nossa viagem. Eu nem acreditava que tudo aquilo foi apenas um sonho, parecia tão real. Eu só tinha a agradecer por não ser verdade. Peguei minha prancha de surfe e fui até a praia com meus pais e meus irmãos, então senti que podia compartilhar com eles o meu terrível sonho.
Meu pai me aconselhou a esquecer tudo aquilo e explicou que às vezes é preciso tirarmos umas férias para viajar e sair da rotina pois senão nós mesmos nos tornamos nossos monstros diários, só pensando em trabalhar sem aproveitar a vida. Decidi que esqueceria aquilo tudo e que aproveitaria cada minuto. Foi incrível. Abandonei a rotina e foi libertador. Sem pesadelos pelo resto das férias!!

Uma viagem ao 'eu' desconhecido

Suzana Klein da Silva

Ei! Você já parou por alguns segundos para observar a sua volta? A si mesmo? Difícil, não? Com a correria do dia a dia, deixamos passar despercebidos de nossos olhares coisas simples, corriqueiras do nosso cotidiano, mas que aos poucos vão moldando as “vidas” que nos cercam e a nós mesmos. Experimente por alguns segundos admirar, da sua janela mesmo. As paisagens, sentir o vento, ouvir os sons que ecoam a sua volta, as pessoas, mas principalmente busque entender a si mesmo e aos outros que o cercam. Nossa história começa em uma bolha. - Uma bolha? - Sim, isso mesmo! Uma bolha. Não uma simples “bolha de sabão”, que flutua pelo ar, quando soprada por uma criança, ou aquelas “bolhas” que saem em ferimentos, eca!,definitivamente não! Essa “bolha”, vamos assim chamá-la, é o lugar onde vive Karle. Em um tempo não muito distante, há lugar isolado por uma enorme bolha, de nome um tanto peculiar, “Divinópolis”. Neste, tudo e todos vivem envoltos por bolhas, cada um com a sua, “casulos” se assim preferir.



Ali vivia Karle com seus 18 anos, estudante, levava uma vida normal, porém tediosa. Imagine você aí, de sua janela, se tudo que o que vê fosse exatamente igual, “um monte de bolhas”. Tedioso, não? Enfim. Naquela manhã de verão nada era diferente, a mesma rotina, os mesmos sons, as mesmas bolhas, porém Karle lembrara de um sonho. Neste, ela se encontrava em um lindo jardim florido, admirava um pôr do sol deslumbrante, sentada com um livro na mão, ao lado de uma cesta de frutas em cima de uma toalha xadrez, estendida sob a grama, um “piquenique”. Cena que Karle só lia em livros, pois nunca esteve num lugar assim, “especial”, sonhar com este só lhe fez pensar... “- E se tudo o que há fora dessa bolha for diferente?”. Quanto mais pensava, mais vontade ela tinha de sair dali.  Mas como iria fazer para sair de sua bolha?  Escapar da enorme bolha que a cercava? O jeito era arranjar uma forma, pesquisar nos livros uma maneira de livrar-se das “bolhas” e ir em busca de seu maior desejo. Sua aventura começava na biblioteca.



Ao chegar à biblioteca da cidade, Karle encaminhou-se para a seção em que estavam os livros sobre ferramentas, após a pesquisa encontrou o livro “Formas e Soluções”, que trazia as formas como foram confeccionadas cada bolha e como fora fundada a cidade. Porém estas eram muito complexas para o entendimento de Karle, já que envolviam cálculos e “Matemática” não era o seu forte.  No capítulo “Soluções”, Karle encontrou um trecho que trazia a frase “São escolhas que nos fazem e moldam nossas vidas”. Naquele instante ela não compreendeu do que a frase se tratava. Voltou a ler, folheando página por página, até o momento que encontrou uma anotação no rodapé da página 67: “Se procura uma saída, busque isso em si mesmo”. Novamente não compreendeu e passou a folhear cada vez mais as páginas na ânsia de encontrar uma solução. As páginas do livro cessaram e sem respostas Karle saiu da biblioteca desapontada. No caminho ela tentava entender qual o sentido das frases; entretanto, quanto mais pensava menos compreendia.
São escolhas que nos fazem e moldam nossas vidas.
Após caminhar por horas refletindo sobre as frases, ela se encontrou de frente a um caminho estreito. Nunca havia visto aquela parte da cidade, nem sequer sabia aonde aquele caminho a levaria, mas ela precisava de respostas e foi aí que “escolheu”: “Seguirei em frente” - disse para si mesma.  A cada passo por aquele caminho, Karle pensava: “O que farei se essa for a saída?”. O medo do desconhecido aos poucos ia tomando-a, mas sua vontade de sair da bolha era maior. No final daquele caminho Karle avistou uma porta; estava trancada, porém havia algo escrito: “Descubra a chave e encontre seus sonhos”. Ao ler em voz alta a frase, ela ouviu um ‘Bip!’soar, depois do som a porta abriu. Levava a uma sala cheia de espelhos, no centro havia uma poltrona, ao lado desta uma mesinha e em cima da mesa um livro. Tomada pela curiosidade, ela entrou na sala, sentou-se na poltrona, pegou o livro na mão, o qual trazia o seguinte título: “A viagem de volta ao amanhã”.
Karle começou a folhear as páginas, que traziam imagens, fotos de paisagens, pessoas, animais, plantas, entre outros. Quanto mais folheava as páginas do livro, mais fascinada ficava. Em uma página havia uma pequena foto de um senhor velhinho, cujo nome não estava escrito, abaixo da imagem havia a seguinte frase: “Se encontrou a saída dentro de si, este será o seu recomeço”. A garota não entendia o que tais palavras significavam, fechou o livro e o colocou novamente sobre a mesa. Ao se levantar para sair da sala, Karle deparou-se com a porta fechada. Por um momento a garota ficou assustada, pois como iria sair daquele lugar, se ninguém havia visto ela entrar ali? Minutos se passavam e mais apreensiva ela ficava. Sentou-se novamente na poltrona, na tentativa de acalmar-se e tentar achar um meio de sair daquele local.  Karle passou a observar a sua volta. Ao entrar na sala, ela não notara que, de todos os espelhos, apenas em um, do lado esquerdo da saleta, conseguia ver o seu reflexo.



Começou a observar-se por alguns instantes, enquanto admirava as linhas do seu rosto, os olhos, nariz, orelhas, o comprimento de seu cabelo, seu corpo. Quanto mais via-se, menos ela se conhecia. A imagem refletida pelo espelho era de uma desconhecida. Aquela seria realmente ela? Apenas uma bolha em meio a tantas outras? Não! Karle sabia que era mais do que simples bolha, ela havia feito a escolha de seguir em frente, em busca de seu sonho. Ao refletir, entendeu a primeira frase do livro “Formas e Soluções”, o qual lera na biblioteca. “São escolhas que nos fazem e moldam nossas vidas”, pois ela havia feito a escolha de seguir em frente sem recear o que a esperava. Ao repetir a frase em voz alta, duas janelas entre os espelhos começaram a surgir. Na primeira estava escrito “o Ontem” e na segunda “o Amanhã”.  Teria ela que escolher entre uma das duas para sair dali? – Pare um instante e pense... qual seria a sua escolha, conhecer o ontem ou o amanhã?
A dúvida pairava nos pensamentos de Karle. Qual escolha fazer? O ontem ou o amanhã? Em um certo instante a dúvida foi dizimada, pois ela conhecia o ontem, este era como sempre fora, as mesmas coisas, mesmas bolhas. Desconhecia o amanhã, mas não sabia como este seria, se não vivesse o hoje, o presente. Agora ela conhecia a si mesma, sabia o que queria, e não iria tomar decisões precipitadas, pois suas escolhas a trouxeram até a li e moldaram a sua nova vida, seu novo eu. Karle andou em direção à porta da sala, quando ouviu algo ranger abaixo de seus pés. Ali havia uma madeira do assoalho solta, ela abaixou-se e cuidadosamente retirou a madeira. Dentro do buraco que se formou no chão, estava um bilhete envolto em uma chave. Neste dizia: “Viva o Hoje na ânsia de conquistar o Amanhã”. Ao dar um passo para trás, a garota percebeu uma fechadura, no canto inferior esquerdo do espelho, o qual antes contemplava o seu reflexo. Ela seguiu em direção ao espelho, pôs a chave na fechadura e girou-a lentamente.
Viva o hoje na ânsia de conquistar o amanhã.
Neste instante uma porta surgiu entre os espelhos, atrás da poltrona. Ela seguiu em sua direção, posicionou sua mão direita na maçaneta da porta e lentamente foi abrindo-a. Ao abrir a porta por completo, a garota observou ao longe o entardecer, o pôr do sol de seus sonhos formando-se na sua frente, flores e um gramado extenso formavam tal paisagem. Sem hesitar, Karle despiu-se dos medos e seguiu em frente. A porta fechara-se “exilando” um mundo em que semelhantes se tronaram desconhecidos, sucumbidos por suas bolhas. Hoje Karle viaja pelo mundo, faz seus “piqueniques” na companhia de seus livros, contempla as belezas, que antes passavam despercebidas no seu dia a dia, conhece pessoas, faz de cada uma das suas escolhas oportunidades para recomeçar, seguir sua vida e conquistar os seus sonhos, a cada novo amanhecer...



Faça você esta viagem, em busca do seu “eu” desconhecido, procure encontrar-se e entender as pessoas, as coisas como elas são. Desfaça-se de sua bolha e contemple a vida como ela é. Viva o hoje e conquiste o amanhã.

Uma viagem (muito) estranha

João Vitor Taborda Salla

Era um final de semana qualquer, comum, sem notícias impactantes, tampouco novidades. Preparava minhas malas, mochilas e tralhas para algo que seria uma viagem um tanto quanto interessante. Sairíamos de Santa Cruz do Sul/RS, rumo a Coronel Procópio/PR. Pouco mais de mil quilômetros de estrada, onde o mais importante seria o meio desse contexto. O carro em que iríamos era da mãe de uma amiga minha, um pouco mal cuidado, mas, de certa forma, propício para a nossa aventura.
A gente iria sair pela manhã, bem cedinho. Então não perdi tempo, e fui arrumar minhas coisas. Meu irmão me indagou sobre o que eu levaria de bagagem, que não era pra levar tantas coisas, pois era verão, e ficaríamos poucos dias por lá.
- Ah, mano, tô levando meus bagulhos normais. Skate, um cd novo do Projota – caso a galera que for junto resolva colocar aquelas músicas melancólicas do Luan Santana, Jorge e Mateus etc. Também tô levando a minha câmera fotográfica. Enfim, essas coisas – respondi ao meu irmão.
Terminei de arrumar minhas coisas, passei todos os episódios das minhas séries favoritas para meu HD externo, para talvez assisti-las durante a viagem, arrumei as roupas e fui dormir.



Logo, já acordei cedo - por volta de umas quatro e meia da manhã. A galera já passou para me buscar em casa, e “largamos” rumo a Coronel Procópio. Durante a viagem, várias pausas para fotos, selfies etc. Foi então que – visível e premeditadamente – colocaram aquelas músicas melancólicas, sobre as quais citei os cantores acima. Puxei meus fones de ouvido, coloquei FarAway, da banda canadense Nickelback, e fechei meus olhos para tentar me desligar daquele “mundinho” o mais rápido possível.
Olhei para os lados, todos haviam sumido, havia somente eu no carro, e o mesmo estava parado no meio daquela rodovia deserta.
Acordei ouvindo algo estranho, que parecia uma fusão de O Nome Dela é Rapariga, de Naiara Azevedo, com um funk music, desses famosinhos como Baile de Favela, de Mc João. Olhei para os lados, todos haviam sumido, havia somente eu no carro, e o mesmo estava parado no meio daquela rodovia deserta, quase que como (aí vem outra citação) o episódio piloto da série The Walking Dead - onde o protagonista acorda sozinho no hospital. Foi quando fiquei desesperado, saí do carro, e entrei na mata para procurar meus amigos, tentar encontrá-los.
Nisso, ouço um boooom, essa onomatopeia faz com que eu olhe para os lados, neste momento começo a ver tudo em chamas – como descrito no texto O Final, ou o Começo de um Novo Mundo, de Betina Cesa. Parecia tudo devastador, tudo queimando e explodindo. Foi quando as explosões me alcançaram, e, após um tempo, começo a ouvir uma voz familiar, que dizia:
- Vamos, acorda. Vamos, se mexe.
Começo a perceber que a voz se trata de Olívia, minha amiga, filha da mulher que nos emprestou o carro.
Começo a perceber que a voz se trata de Olívia, minha amiga, filha da mulher que nos emprestou o carro. Percebo que estou só no carro novamente, mas desta vez em um lugar mais movimentado, com buzinas e barulho de carros. Antes que me desse conta, Olívia já estava me falando:
- Vamos, dorminhoco, você dormiu quase a viagem inteira! Só mais essa foto e já estamos quase chegando.
Precioso momento em que fiquei aliviado. Meus amigos não haviam sumido, eu não estava inserido na vida real de uma série fictícia, muito menos estava ouvindo aquelas músicas desagradáveis. Eu apenas tinha ido para uma área em que fiquei preso nos meus próprios pensamentos, imaginando coisas, preocupado, e vendo o fim do mundo (sem alienígenas). É, podemos chamar isso de viagem.

A viagem dos sonhos sem volta

Valéria Foletto

Maria, uma moça de 16 anos, e João, rapaz de 18, se conheceram na escola Cásper Líbero em Malasca, no ano de 1990. O encontro rendeu um amor à primeira vista e para a vida toda. Maria sempre muito sonhadora, delicada e sincera, adorava os regalos que o namorado lhe dava de presente em datas especiais e também em dias comuns, porém muitas vezes estranhava os comportamentos do namorado. Quando saía de casa para jogar com amigos, demorava a retornar, suas saídas lhe geravam desconfiança.
Certa vez, João saiu no domingo e desapareceu completamente. Disse que ia jogar pôquer, e de repente sumiu. Maria ligava no celular, chamava pelo nome pelos bairros da pequena cidade de Malasca, de três mil habitantes, mas João não respondia. A família, preocupada, já havia perdido as esperanças ao pensar que o pior pudesse ter acontecido com o jovem. O caso era misterioso.
No pescoço, uma gravata lilás com um tope delicado. Nos rosto, os óculos eram de chocolate e nas orelhas usava brincos de avelã. Os pulsos possuíam pulseiras de gominhas coloridas.
De repente, ao meio dia da sexta-feira seguinte, João reapareceu em casa, mas muito diferente de como havia saído, no domingo à tarde. Ele chegou com o cabelo cor de rosa, semelhante a um Bombril, as calças listradas em preto e branco e a camisa laranja com bolinhas de confete. No pescoço, uma gravata lilás com um tope delicado. Nos rosto, os óculos eram de chocolate e nas orelhas usava brincos de avelã. Os pulsos possuíam pulseiras de gominhas coloridas.



Mas o que era aquilo? Ao bater à porta, Maria, quando viu seu namorado daquele jeito, não o reconheceu, se assustou com o sujeito em sua frente e desmaiou. No mesmo instante, um pó todo dourado foi jogado pela escada que dava acesso à porta da casa. Chamequinho, um boneco de chocolate, que parecia um biscoito, atirou no casal o pó de pirlimpimpim que os levou a uma viagem inesquecível no Mundo Doce das Fantasias. O boneco de chocolate havia abduzido João anteriormente, porém o jovem sentiu saudades da esposa e quis voltar. No entanto, o Mundo Doce das Fantasias permite apenas uma viagem de volta pra casa. A partir de agora, o casal vai passar a viver em um mundo absolutamente diferente daquele vivido na terra.
O pó de pirlimpimpim ajuda a levar os jovens sonhadores a um mundo das fantasias, onde o real é criado por eles, através da imaginação. A viagem durou cerca de quatro minutos. Quando o pó é jogado, uma fumaça brilhante cega os que assistem ao momento e os faz perder a memória. Após o pó ser jogado, a fumaça começou a voar pelos céus, até chegar ao Portal da Luz, a ponte que dá acesso ao Mundo Doce.
O pó de pirlimpimpim ajuda a levar os jovens sonhadores a um mundo das fantasias, onde o real é criado por eles, através da imaginação. A viagem durou cerca de quatro minutos. 
Quando o casal chegou ao mundo das cores, doces, sonhos e fantasias, Chamequinho lhes disse: “Bem-vindos, agora que sua esposa está aqui, não tem como voltar para casa. A partir de agora viverão para sempre no Mundo Doce”. Assustada, Maria pegou João pelo braço e começou a correr em disparada até uma cachoeira, onde se esconderam atrás das pedras. “Que mundo é esse? Como vim parar aqui?”, questionou a jovem. “Meu amor, seu sonho era viver sem compromisso ou responsabilidade, apenas viver em um mundo novo. Realizei seu sonho”, respondeu João, beijando a moça.



Após esse momento Maria estendeu o braço em direção à cachoeira e encostou o dedo no líquido que descia pela cachoeira e notou que era mousse de maracujá. O sonho de fantasias se tornara realidade para a jovem. Maria então pegou a mão de João e juntos foram desbravar o Mundo Doce das Fantasias, onde as árvores eram de wafer, as casas de rapadura, e os edifícios de bolo de milho. As pessoas eram todas de chocolate, e não tinham a chance de viver, pois um mordia o outro, e com isso ficavam sem a cabeça, sem um braço ou uma perna. O mundo dos sonhos era especialmente e exclusivamente para o casal João e Maria, que, após fugir da feiticeira na terra, tiveram de vencer uma batalha contra bruxas e duendes. Agora, João e Maria podem descansar, pois a única preocupação do casal é em comer doces e desbravar o Mundo Doce das Fantasias. Parece que a hora do descanso chegou, não é mesmo?

A viagem que não aconteceu

Évelin Diogo Lorca

Chegou o tão esperado dia, o dia de embarcar para meu intercâmbio em Madri. Só eu sei o quanto batalhei para que esta viagem, ou melhor, este sonho se tornasse realidade. Tive que abrir mão de muita coisa, inclusive do meu amor, o Gabriel. Mas acredito que em primeiro lugar devem vir os nossos sonhos. Resolvi ir sozinha para o aeroporto, não gosto de despedidas. Chamei o táxi. Quando ele chegou, dei uma última olhada na minha casa, para que ficasse com a lembrança dela na mente durante esse próximo ano que ficaria fora.
Quando estávamos próximos do aeroporto ouvi um estrondo muito forte. Então me vi caída no chão, muitas pessoas estão ao meu redor. Não entendo o que aconteceu. Sinto uma dor enorme na minha cabeça, tento pedir ajuda, mas é em vão, eles não me ouvem. Ouço então sirenes vindas em direção onde estou e algumas pessoas de branco me recolhendo para colocar na ambulância.
Sinto uma dor enorme na minha cabeça, tento pedir ajuda, mas é em vão, eles não me ouvem. 
Chegamos ao hospital, todos abrem espaço para que possam passar com a minha maca. Ainda não entendo o que está acontecendo, mas me preocupo, por que ninguém me escuta? Por que eles não ouvem o que eu digo?
Vejo de longe, são meus pais. Gabriel está com eles também. Todos choram desesperados, tento dizer para eles se acalmarem, que estou bem, mas eles também não me escutam. Um médico se aproxima e ouço-o dizer que terei que fazer uma cirurgia urgentemente, pois o acidente foi grave.
Desespero-me, não posso morrer, não agora! Tenho uma vida pela frente, meus sonhos como ficam? A viagem que tanto esperei acontecer? Não, não me deixem morrer! Corro até onde está meu corpo, ali parado sem nenhuma ação, vejo sangue por todo ele. A cirurgia já dura horas, quando finalmente o médico sai da sala.
Meus pais e o Gabriel o olham com apreensão. Ele então diz que fizeram tudo que estava ao seu alcance, mas infelizmente não tinham obtido êxito. Agora estava a critério de eles decidirem o que fariam, se desligariam os aparelhos ou não.
Meu mundo desmorona, eu não quero ir, não posso deixar eles que amo tanto. Dói-me pensar nisso, mas me dói mais ainda saber que não disse isso a eles, eu passei tanto tempo preocupada com meus sonhos, com a minha estabilidade, em ser independente com esta viagem, que acabei esquecendo de dizer a eles o quanto são especiais para mim e o quanto eu os amo.
Meu mundo desmorona, eu não quero ir, não posso deixar eles que amo tanto. 
Eles estão sem reação. Seguem até o quarto onde estou e eu os sigo. Primeiro meus pais entram. É terrível vê-los tão desmoronados assim, eles choram em cima de mim e eu queria poder abraçá-los, mas eles nem sequer sentem meu toque. Desnorteados em me ver naquela situação e certos que deveriam me deixar ir, saem da sala para que Gabriel possa se despedir também.
Ele entra no quarto, seu rosto está vermelho, seus olhos inchados. Nunca o vi assim. Só queria poder dizer a ele que o amo. Gabriel se aproxima e pega na minha mão. Sim, eu senti seu toque, e então o ouço dizer:
- Ana, você não pode ir, eu preciso de você aqui! Não sei ficar sem você, eu te amo!
Nisso, sinto algo estranho, uma força me invade e me faz ter coragem para lutar. Vejo uma luz muito forte, que me guia. Eu preciso voltar! Então abro os olhos. Aperto a mão de Gabriel e digo que o amo.




Viagem à Lua

Marcello Kochhman Lucas

“...a lua tão bela, iluminada e desejada. Na maioria dos romances o homem promete a lua a sua amada. Mas eu não. Eu vou lhe dar a lua. Uma viagem a ela...”
Eu vou lhe dar a lua. 
Tudo começou no dia 21 de abril de 2015, quando eu e mais 2 amigos resolvemos assaltar o maior banco do nordeste do Brasil. Seria o maior esquema de assalto a banco da história do país, quiçá do mundo. Meio bilhão de reais estava em jogo. O suficiente para chegar à lua com minha amada. Os túneis estavam prontos. A logística perfeitamente encaixada para até a fuga ser perfeita e segura.




Na madrugada do dia 22, estávamos reunidos para às 7 da manhã dar início ao esquema. Era feriado. O banco fechado e com pouca vigilância. Nos meus olhos, o brilho da lua. A lua em que prometi a minha amada. A gana por aquele montante só aumentava a cada segundo.
Nos meus olhos, o brilho da lua. A lua em que prometi a minha amada.
Eram 6:30 da manhã, fizemos a oração. Meus 2 amigos nem fé tinham, mas rezavam para cumprir o protocolo de assalto. Era habitual para eles. Naquele momento me bateu um certo receio. Não culpa, afinal era um presente a minha amada.
7:30 da manhã implodimos o primeiro cofre. O dinheiro estava sendo carregado. A viagem à lua estava tão perto. Meus olhos brilhavam mais do que nunca.
Não sabemos como, mas perdemos o controle de tudo. Carregamos o dinheiro todo, dos 3 cofres. E na saída do túnel estava a tropa de choque da polícia militar. O sonho da lua havia acabado.
Fui preso. Estou aqui há 8 anos. No presídio central. A viagem à lua eu não consegui. Mas a amada eu encontrei aqui dentro.
Tentei dar a lua à amada. Amada essa que eu ainda não havia encontrado e aqui dentro encontrei. Agora sim, quando sair daqui eu darei a viagem à pessoa destinada. Enquanto isso vemos a lua brilhar quadrada, da janela da cela da prisão.


No destino da Amazônia

por Deise de Moura Tolfo

O bilhete para o voo rumo à Amazônia estava comprado e eu, já me sentia aliviada por ter dado tudo certo: as datas, os valores e o pacote. Foram horas de negociação, mas a opção mais atraente que a moça da companhia aérea me passou foi para a Amazônia. Confesso que na verdade queria ter ido para Fortaleza, mas parece que esse não seria o meu destino.




Cheguei em casa contente, sabendo que logo estaria do outro lado do Brasil. Os dias se passaram e logo chegou a data tão esperada. Eram 7 horas da manhã de segunda-feira, meu relógio despertou. Acordei assustada, pulei da cama e já fui preparando minha mala. Roupas, casacos: não, casacos não! A moça da companhia me disse que a temperatura lá é bem alta. Separei, então, somente roupas leves, chinelos, tênis, livros, e o necessário para ficar duas semanas fora de minha casa. Quando acabei, não havia mais nenhum espacinho para coisa nenhuma naquela mala, e ainda faltavam alguns objetos. Resumindo, tive que sair às pressas para arranjar mais uma mala. Minha vizinha me deu a maior força, emprestou a dela e pude organizar todas as minhas coisas.
Confesso que na verdade queria ter ido para Fortaleza, mas parece que esse não seria o meu destino.
A viagem estava marcada para as 21 horas e precisava chegar a Porto Alegre em tempo hábil. Para minha sorte, consegui estar no Aeroporto Salgado Filho com uma hora de antecedência.  Fiz o check-in, entreguei o bilhete ao funcionário do aeroporto e segui em direção ao avião. Quando entrei pela porta da aeronave lembrei de tomar meu remédio para enjoo, sempre fico mal na decolagem, meu estômago revira, minhas mãos ficam trêmulas e sinto como se estivesse tendo uma coisa. Estava transtornada com aquilo, mas pensei em soluções. A aeromoça logo veio para meu lado, e tive uma ideia fantástica, que talvez me livraria de todas aquelas sensações horríveis. Chamei ela e pedi: moça, tens algo para enjoo? Esqueci do meu remédio! A moça prontamente me atendeu e me trouxe novamente o descanso.



O taxista maluco: em Manaus quem menos anda, voa!
Foram quase sete horas dentro daquele avião. Confesso que para mim essa é aparte mais chata da viagem, aquele ambiente me sufoca! Acho que sofro de claustrofobia. Mas enfim, cheguei no meio da noite ao meu destino. Paramos no Aeroporto de Manaus e precisava de um táxi que me levasse para o hotel. 
Já em terra firme, tudo já estava ficando melhor! Peguei o primeiro táxi da fila, forneci o endereço que a moça da companhia me passou e o taxista deu a partida no carro e saiu com muita pressa. A cidade estava silenciosa e o motorista estava bem nervoso, andava bem rápido que quase não vencia as esquinas. Comecei a ficar com medo. Ele me olhava pelo retrovisor, e nem cuidava muito o trajeto que fazia. Perguntei a ele se demoraria muito e ele em um tom bem grosseiro me respondeu: quer que eu ande mais! Tratei logo de ficar quieta e senti um cheiro desagradável, acho que era de bebida. Pensei logo: meu Deus, onde fui me meter!
Ele andou cerca de 40 minutos e eu percebi que ele estava dando voltas demais, não tinha certeza, mas isso me passou pela cabeça. Só queria entender se ele tinha alguma intenção maldosa ou apenas queria que eu pagasse a mais. Mas enfim, cheguei no hotel sã e salva! A moça da portaria foi logo me receber e perguntou se estava tudo bem comigo, acho que ela percebeu meu pavor! Após a recepção, fui para o meu quarto descansar para iniciar o dia tão esperado; o dia de conhecer a selva amazônica.
Era encantadora a diversidade de cores das casas, uma arquitetura bem diferente da nossa.
Dormi bem pouco, acordei com o sol no meu rosto, olhei para fora da janela e me deslumbrei ao ver uma cidade tão bela. Era encantadora a diversidade de cores das casas, uma arquitetura bem diferente da nossa. Me empolguei bastante e estava ansiosa para conhecer tudo. Desci até a portaria e lá estava um índio me esperando para me levar até o acampamento na selva. Foram mais duas horas de trajeto, almoçamos no caminho e logo na primeira hora da tarde pegamos uma lancha para chegar até o destino. Foi surpreendente, ou melhor, espetacular! Nunca pensei que houvesse tanta diversidade de coisas naquele lugar. Consegui avistar bem de longe uma onça e logo mais pude ver macaquinhos saltitando pelas árvores. Nesse meio tempo, nessas duas horas, pude perceber o valor que tem a nossa Amazônia.